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Vaidosa, eu?

* Por Luiza Xavier



Sabe aquelas meninas que aos oito anos já usam batom, rímel, blush e imploram para acompanhar a mãe ao salão de beleza? E que aos dez não têm a menor dúvida sobre a diferença entre base e corretivo? Pois é, nunca fui assim. Quando vejo algumas "mini" youtubers lindinhas, fazendo tutoriais de maquiagem agradeço ao Universo por não ser adolescente neste século esquisito. Certamente, sofreria muito bullying. Não que eu não tenha sofrido, porém, no final dos anos 1970 tudo parecia ser mais, ahn, lento. Claro que havia as colegas da escola, as vizinhas e as primas que só falavam em "crescer logo" para namorar, casar e ter dois filhos. Mas, na hora de se arrumar, elas invadiam a penteadeira da mãe. Alguém ainda sabe o que é uma penteadeira? Enfim. Não lembro da existência de maquiagem para crianças. E, para mim, que usava óculos, não fazia ideia se meu cabelo era forte, quebradiço ou tinha pontas duplas, e sonhava ser professora, pintar o rosto só tinha sentido no carnaval e nas festas juninas. Eu até curtia, mas dentro de um contexto. Era algo teatral, não para o dia a dia de uma menina. Quando passei a sair à noite, entrei na faculdade e comecei os estágios minha mãe é que praticamente invadia o meu quarto para perguntar se eu já estava pronta. "Você vai sair assim? Está pálida. Não vai passar nem um batonzinho?" Eu sorria, balançava o cabelão ondulado e saía. Pela rua, ia caminhando firme com uma certeza em mente: jornalista não precisa dessas coisas. Eram outros tempos. E, definitivamente, era um outro mundo. No novo cotidiano que atropelou a minha maturidade, me vejo visitando sites sobre como fazer isso e aquilo para manter a pele firme, lisa, jovem, natural, saudável, nutrida, hidratada, sem manchas, sem sinais - seja lá o que isso signifique. Descobri, por exemplo, que mesmo dentro de casa, isolada, preciso usar filtro solar. Você sabia? Minha mente está tão atenta a esse rompante de vaidade que, outro dia, durante a escapada semanal para ir ao mercadinho do bairro acabei entrando na drogaria da esquina. Depois de esperar uns dez minutos na fila, desinfetar as mãos com álcool em gel e ser autorizada pela funcionaria a romper, finalmente, a barreira do distanciamento, entrei apressada, mas não fui direto ao balcão dos medicamentos, como de costume. Peguei uma cestinha e sai percorrendo as prateleiras da seção de...cosméticos! Hidratante para a noite, para o dia, duas máscaras faciais e cremes restauradores para os cabelos. Que sensação! Quase foi possível me sentir alegre. Num piscar de olhos era novamente uma menina sonhando com a fantasia dos dias de folia. Lá estava eu carregando naquela sacola plástica, que logo teria de ser descartada, um pouco da leveza, da cor e da magia que eu via estampadas nos rostos da minha mãe, das muitas amigas dela, das minhas tias, daquelas mulheres maravilhosas do meu passado. Sim, confesso que não as achava tão maravilhosas assim naquela época. Afinal, eu ainda precisava trilhar meus próprios caminhos, construir minha história. É preciso querer ser diferente para poder reconhecer que só queremos ser iguais. Enfim.


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* Luiza Xavier e jornalista carioca, graduada pela Faculdade de Comunicação Hélio Alonso (FACHA) e atua na área  há 25 anos. Já trabalhou como repórter, redatora e editora em diversos veículos, como O Globo, Jornal do Brasil, Jornal do Commercio, Folha de Londrina, Rádio CBN, Rádio e TV Bandeirantes, Rádio Tupi, entre outros. Como assessora de imprensa, fez parte da equipe de atendimento a clientes de grande porte como Maersk Line, Petros - Fundação Petrobras de Seguridade e Endeavor Brasil.  Atualmente, atende clientes dos segmentos de tecnologia, saúde, direito e empreendedorismo como assessora e consultora de comunicação. Depois da reportagem, a crônica é seu estilo preferido. Humanista, acredita que é possível realizar mudanças na sociedade a partir do trabalho colaborativo e do incentivo à educação e ao autoconhecimento.




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